Câncer de Bexiga
Câncer de Bexiga
O câncer de bexiga (CAB) é consequência de um crescimento desordenado das células do revestimento interno desse órgão. É o sexto mais comum entre os homens e ocupa a 19º posição entre as mulheres. Ele atinge com maior frequência os idosos, especialmente após os 60 anos de idade.
Na maior parte dos casos o câncer de bexiga é superficial, ou seja, limita-se a mucosa da bexiga. No entanto, a doença pode começar em regiões mais superficiais e se aprofundar até a parede muscular e dar origem a metástases em gânglios linfáticos, ossos ou outros órgãos.
Prevenção
O fator de risco mais importante para o desenvolvimento do CAB é o tabagismo (presente em cerca de 50 a 70% dos casos) e em 10% dos casos temos a exposição a compostos químicos como aminas aromáticas e hidrocarbonetos presentes em indústrias de corantes e derivados do petróleo. Sendo assim, recomenda-se como principal prevenção o abandono completo do tabagismo (inclusive a sua forma passiva) e a proteção contra a inalação dos produtos mencionados acima.
Sintomas
Possui como sintoma mais comum a presença de sangue na urina (hematúria). Outros sintomas como aumento da frequência urinária, ardor ao urinar ou dor pélvica podem também estar presentes.
Diagnóstico
Os exames que inicialmente são realizados para a detecção do câncer de bexiga são o exame de urina e exames de imagem, como a ultrassonografia. O melhor exame é a cistoscopia, que nada mais é do que uma endoscopia da bexiga. Utilizamos um aparelho (cistoscópio) com uma câmera para que seja feita a avaliação interna da bexiga (visão da cistoscopia demonstrada na imagem abaixo). Este aparelho é inserido pelo penis, e chega até a bexiga, permitindo a visualização de toda a sua mucosa. Durante a cistoscopia, também podem ser retirados fragmentos para biópsia.
O diagnóstico precoce é uma estratégia para encontrar um tumor numa fase inicial e, dessa forma, possibilitar maior chance de cura. Deve ser feito sempre que houver sangue na urina.
Tratamento
A cirurgia de escolha para classificação e tratamento do tumor de bexiga é a ressecção transuretral (RTU) da bexiga. O procedimento é feito com uma alça que conduz energia e permite ressecar a lesão, que é retirada em inúmeros fragmentos, que serão enviados para a biópsia. Tudo isto é também realizado (assim como a cistoscopia) por técnica minimamente invasiva, onde uma pequena câmera e materiais delicados são inseridos através do pênis pela uretra, e chega até a bexiga para realizar o tratamento.
Tumores superficiais (que acometem apenas a mucosa da bexiga):
Esta forma clínica do câncer de bexiga é a mais comum, sendo em média para 65% dos casos. Neste caso, o tratamento pode ser apenas a RTU ou pode ser necessária a instilação de alguns agentes quimio ou imunoterápicos no interior da bexiga para complementação do tratamento (será avaliado cada caso individualmente).
Tumores profundos (que acometem a parede muscular da bexiga):
Quando se trata de um tumor profundo, a abordagem é mais invasiva, pois estes tumores costumam ser mais agressivos e podem evoluir para metástase para outros órgãos.
É recomendada a realização de quimioterapia neoadjuvante (ou seja, quimioterapia antes do procedimento cirúrgico curativo) e, a seguir, a cirurgia para retirada completa da bexiga, conhecida como cistectomia radical. São também retiradas a próstata e a vesícula seminal (nos homens) e o útero, trompas de Falópio, ovários, colo do útero e uma pequena parte da vagina (nas mulheres).
Utilizamos preferencialmente as vias minimamente invasivas (robótica ou laparoscópica) para este procedimento. Estas técnicas usam pequenas incisões abdominais, através das quais a câmera e as pinças são inseridas e o espécimen cirúrgico é retirado por uma pequena incisão.
Após a retirada da bexiga, existe a necessidade de reconstruir o trato urinário para adequada drenagem da urina que é produzida nos rins. Sendo assim é feita uma derivação urinária, que pode ser:
Derivação a bricker
é removida uma porção pequena do intestino (íleo) e conectada a mesma aos ureteres (canal que leva a urina dos rins à bexiga), criando o que se denomina conduto ileal (bricker), para que a urina passe dos rins para fora do corpo. O conduto está ligado à pele na parede anterior do abdome por uma abertura denominada estoma ou urostomia. Após o procedimento, uma pequena bolsa é colocada sobre o estoma para coletar a urina, que sai continuamente em pequenas quantidades.
Neobexiga ileal
Outra técnica que permite com que a urina retorne a ser emitida através da uretra, restaurando a micção. Fazemos isto através da criação de uma “neobexiga”, um reservatório urinário feito com uma porção do intestino (geralmente o íleo). Assim como no bricker, os ureteres são conectados à neobexiga. A diferença é que a neobexiga é também ligada à uretra, permitindo ao paciente urinar “normalmente”. Este tipo de cirurgia é mais mórbida, com maior risco de complicações peri e pós-operatórias, além disso há a necessidade de cuidados especiais com a micção, podendo haver a necessidade de cateterismo intermitente (passagem de sonda uretral para adequado esvaziamento da bexiga). Geralmente utilizamos esta técnica para pacientes mais jovens.
Complicações cirúrgicas e pós-operatório
A cistectomia radical é uma cirurgia de grande porte, que envolve riscos a curto prazo, entre eles reações à anestesia, dor, sangramento, formação de coágulos sanguíneos, e infecções. Há também, como em toda cirurgia abdominal, o risco de complicações intestinais e urinárias, pois são tratos manipulados durante o procedimento. Hoje em dia existem estudos que demonstram que, com a técnica minimimamente invasiva, os riscos são reduzidos.
No pós-operatório orientamos repouso, cuidados com ferida operatória e bolsa de urostomia (caso seja feita derivação a bricker). O retorno às atividades habituais geralmente é permitido após 30 dias da alta hospitalar, e o seguimento é feito com exames de sangue e de imagem.